Inovação e acesso a cuidados de saúde

O local onde se vive não deveria determinar a qualidade dos cuidados de saúde recebidos, afinal, as constituições nacionais de cada país consagram o direito de pessoa a ter uma vida mais saudável ​​e feliz.

A realidade contradiz este direito e a disparidade de acesso e prestação de cuidados são inegáveis.

As publicações científicas referem as zonas rurais, como áreas de acesso reduzido a cuidados de saúde, mas sabemos que, dependendo do país, zonas urbanas das maiores capitais de estado no Brasil têm as mesmas características das zonas rurais dos artigos académicos.

Estas zonas têm:

Menos prestadores: O acesso a hospitais é reduzido. O mesmo acontece com exames básicos. As pessoas não são monitorizadas quanto a doenças cardíacas, pressão arterial, peso ou diabetes, com os resultados consequentes. Não apenas faltam cuidados adequados, falta informação, faltam campanhas de promoção e sensibilização.

Planos de saúde: Nas zonas ruais, como nas periferias das grandes cidades, o acesso a planos de saúde é um obstáculo. Planos de saúde associados ao empregador são uma raridade e os custos para contratar também desencorajam um tipo de população de baixo poder aquisitivo.

Distância: Procurar cuidados de saúde de qualidade ou consulta com especialista podem exigir uma viagem de horas. Entre tempo gasto e despesas associadas, o fator distância vai desencorajar os habitantes destas áreas.

Transporte: Dependendo da área, a questão do transporte pode ir da inexistência à escassez de opções.

Internet: O acesso à banda larga é um fator real em 2024. (nota: a Oi afirmou em setembro de 2019 que iria colocar fibra na rua onde moro. Até hoje ainda não existe essa opção. Imaginem uma zona rural ou periférica…). Sem uma conexão estável à internet, é difícil ou impossível ter acesso a serviços de telessaúde. Existe a tecnologia, existem as ferramentas, mas falta acesso.

Com a pandemia de COVID-19, o CFM foi obrigado a sair dos tempos medievais e aceitar a telessaúde, mas, mais do que isso, todas as pessoas que desconfiavam ou tinham reservas quanto ao uso da telessaúde, hoje usam de forma natural e rotineira.

Mas, de novo, se formos considerar os estudos internacionais sobre zonas rurais e incluirmos áreas urbanas periféricas, mas se colocarmos também a população mais carente ou envelhecida, os problemas são os mesmos.

A solução parece ser a tecnologia, o digital. No entanto, é preciso acesso à internet. Por todo o mundo, nações, estados e municípios apostaram em aumentar o acesso, dependendo dos locais, via banda larga ou wi-fi.

Mas é possível ir mais longe. Wearables e portables. Monitorar pacientes tem um duplo benefício. Acompanham a saúde de forma contínua, fornecendo dados críticos aos prestadores de cuidados de saúde, alimentando os bancos de dados, que alimentam as ferramentas de IA. O grande desafio é a acessibilidade, mas assim que o setor público e o setor privado entendam o valor de ter uma população saudável e o valor dos dados de saúde, o cálculo dará um resultado: benefício em dobro. As organizações de saúde podem, dessa forma, analisar e identificar tendências e disparidades, acompanhar as métricas de saúde da comunidade. Consequentemente, prestadores têm uma ferramenta poderosa para identificar áreas de necessidade e destinar recursos de forma eficiente. Através da IA também é possível desenvolver a investigação em saúde.

Atendimento sobre rodas: Clínicas de saúde móveis para comunidades rurais e periféricas. A tecnologia não pode ser a única solução e a interação humana tem um papel crucial, especialmente quando falamos de populações isoladas ou com pouca convivência com profissionais de saúde. Aproveitando estratégias de promoção de saúde, como Setembro Amarelo, Outubro Rosa ou Novembro Azul, é possível criar rotinas com as próprias populações e estabelecer uma consciência de saúde.

Distribuição, acesso e sustentabilidade: Basta ver o exemplo de Mark Cuban, que conseguiu baixar de forma drástica o custo e o preço dos medicamentos nos EUS (e continua bilionário), garantindo acesso a uma fatia maior da população. Mas, através das ferramentas tech e de IA, é possível assegurar que a distribuição de medicamentos seja feita de forma organizada e sustentável, percebendo as necessidades de uma determinada área, ao longo do tempo, garantindo uma estratégia que otimize o número de transportes, sem prejuízo das entregas. Até mesmo através do uso de drones. Não é ficção, é algo bem real que ocorreu durante a pandemia. E não se aplica somente a medicação, pode ser usado com exames e amostras.

Inovação não é apenas desenvolver APPs ou criar uma ferramenta tecnológica ou digital, é criar formas de aumentar o acesso e a eficácia dessas ferramentas ou das novas ferramentas que estão em criação ou ainda vão ser criadas.

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