Big techs e o problema/a solução nuclear

As gigantes tecnológicas mundiais encontraram a solução para a alta exigência energética dos seus data centers. A maior parte das Big Techs assumiram o compromisso de carbono zero até 2030 e um dos caminhos definidos é o nuclear. Mas, a energia nuclear, embora garanta que não tem emissões de carbono, tem outros problemas, nomeadamente no que diz respeito ao meio ambiente.

As centrais nucleares que têm sido anunciadas estavam desativadas, o que significa que não são modernas, o que implica, por exemplo, a obtenção de licenças, com as correspondentes vistorias/inspeções e contratação de profissionais especializados. Mas, provavelmente mais importante, geram resíduos radioativos. A sua radioatividade permanece ativa por 50 a 300 anos.

Centrais novas são mais verdes, mas implicam investimentos superiores à reativação das mais antigas. E não ficam prontas a funcionar da noite para o dia. Finalmente, o custo da energia produzida não é acessível, podendo custar de 2 a 4 vezes mais que a energia solar.

A Constellation Energy anunciou que vai reiniciar a Unidade 1 de Three Mile Island de 837 MW, que esteve inativa durante cinco anos, para suportar uma parceria de 20 anos com a Microsoft anunciada em setembro para alimentar data centers na região do Atlântico Médio. São 1,6 bilhões de dólares para reiniciar Three Mile Island. O reactor número 2 desta central sofreu um colapso parcial em 1979. Não houve feridos e ninguém morreu, mas isso atrasou a indústria nuclear durante anos. Apenas duas novas centrais foram inauguradas desde o acidente.

A Amazon Web Services e a Talen Energy Corporation assinaram uma parceria de 10 anos em março de 2024 para adquirir energia em incrementos de 120 MW da central nuclear de Susquehanna, de 2,5 GW, na Pensilvânia, para abastecer um campus de data center de 960 MW.

Aém disso, a Amazon integra um consórcio que alocou 500 milhões de dólares na X-energy com o objetivo de instalar 5 GW de capacidade de SMR (Small Modular Reactors) nos EUA até 2039. Como primeiro passo, a Amazon e a Energy Northwest vão desenvolver quatro SMR com uma capacidade combinada de 320 MW no estado de Washington.

Em maio de 2023, a Helion Energy fechou um PPA com a Microsoft para pelo menos 50 MW da sua primeira central de energia de fusão, com conclusão prevista para o estado de Washington até 2028.

Em outubro, a Google assinou um acordo com a Kairos Power para desenvolver 500 MW de SMRs perto de centros de dados a partir de 2030.

Dados governamentais mostram que a procura de energia dos centros de dados nos EUA deverá duplicar em cinco anos, passando de 176 TWh em 2023 para entre 325 e 580 TWh em 2028. Ao contrário dos reatores de fissão tradicionais refrigerados a água, a fusão ainda não foi utilizada comercialmente para a geração de energia.

Diz que reabrir a instalação existente de Three Mile Island seria mais rápido e menos dispendioso do que construir uma nova central nuclear. “Pelo menos 10 vezes mais barato do que construir uma nova fábrica”, disse. “E pensámos que poderíamos colocá-la em funcionamento em cerca de três anos, ao contrário da última central construída, que demorou quase 10 anos.”

Portanto, enquanto a Microsoft aposta no que já existe e em recuperar o que estava desativado, Amazon e Google anunciam grandes investimentos em energia nuclear através da criação de novas centrais.

A Google,que já investimente fortemente em energia verde, optou pelos SMR, pequenos reatores modulares. “Estas não são as centrais nucleares de ontem, com torres de refrigeração enormes”, disse Michael Terrell, que lidera os esforços de descarbonização da Google. “São instalações muito mais pequenas. Mas, como são modulares, é possível empilhá-las para criar centrais elétricas maiores.

Mas, tal como mencionei acima, os reatores mais modernos demoram a colocar em funcionamento. Por isso, não é estranho que Terrell aponte 2023 como a data prevista para o primeiro reactor nuclear avançado. “E não faremos apenas um reactor, mas esperamos comprar a uma série de reactores que virão depois dele”. Promessa de Terrell.

Através da Kairos Power, que a Google financia para para conceber e construir esta nova geração de reatores, estão em construção três pequenas centrais de demonstração em Oak Ridge, Tennessee, no mesmo local onde o urânio foi processado para a primeira bomba atómica.

Mike Laufer, CEO da Kairos, explicou que os seus reatores utilizam pequenas bolas de combustível, do tamanho de bolas de golfe – sobretudo grafite, com pequenos grãos de urânio. Cada uma tem a capacidade energética equivalente a quatro toneladas de carvão. E com emissão zero de carbono.

Estes reatores têm menor potência e menos pressão do que os reatores tradicionais, o que significa menos risco.

O que têm os SMR e a SkyNet em comum?

Uma das alusões mais comuns, quando falamos em IA, é a Skynet e John Connor, remetendo à saga Terminator.

Só que, à semelhança desses filmes, também os SMR estão ainda no campo da ficção. “Há apenas um problema com os pequenos reactores modulares: eles não existem realmente”, diz Sharon Squassoni, professora da Universidade George Washington.

Squassoni passou 15 anos a investigar a segurança nuclear para o governo e acredita que as grandes empresas tecnológicas podem ter desagradáveis surpresas. “Acho que vão descobrir muito em breve que isto demora muito tempo e é muito caro”, disse.

Squassoni é apenas uma das pessoas que questiona esta aposta.

Se, por um lado, a opção pela reativação de centrais nucleares é tapar de um lado para destapar o outro, sem oferecer uma solução realmente verde ou sustentável, do outro, nada indica que as promessas de entrega dos reatores modernos vão ser concretizadas.

0.00 avg. rating (0% score) - 0 votes